O Ciclo Econômico Brasileiro visto pela Curva IS: Evidências Recentes do Hiato do Produto
Prof. Dr. Sinézio Fernandes Maia
22/12/2025 – 18h30
Os indicadores recentes de atividade econômica apontam para um processo claro de desaceleração da economia brasileira ao final de 2025, ainda que sem sinais de ruptura ou contração abrupta. O crescimento marginal do PIB no terceiro trimestre, aliado aos resultados de outubro – como o IBC-Br e o Monitor do PIB-FGV – reforça a leitura de perda de fôlego no início do quarto trimestre. A Indústria permanece como o elo mais frágil, operando abaixo do pico histórico e com PMIs ainda em zona de contração, apesar de alguma melhora recente. Em contraste, o setor de serviços mantém crescimento moderado, sustentando parte da atividade agregada. O mercado de trabalho segue surpreendentemente robusto, com taxa de desemprego historicamente baixa e geração liquida de empregos formais, o que ajuda a sustentar a renda e evitar uma desaceleração mais intensa do consumo. Indicadores de confiança de consumidores e empresários sugerem estabilização do pessimismo e leve melhora das expectativas. Em conjunto, as evidências apontam para um cenário de crescimento baixo, porém resiliente, compatível com o estágio avançado do ciclo monetário restritivo.
Os dados recentes confirmam essa desaceleração gradual, ainda sem sinais de recessão. A inflação (IPCA) acumula 4,46% em 12 meses, com variação mensal de 0,18%, enquanto o PIB cresceu 0,1% no terceiro trimestre de 2025 e mantém expansão próxima de 2,7% em 12 meses. O IBC-Br recuou 0,2% em outubro, sugerindo início fraco do quarto trimestre e economia operando próxima ao potencial, com hiato do produto reduzindo. A produção industrial variou apenas 0,1% no mês, evidenciando estagnação do setor. O Consumo mostra maior resiliência, com crescimento do varejo (+0,5%) e dos serviços (+0,3%). O investimento mantém crescimento em 12 meses, embora tenha perdido tração recente. No mercado de trabalho, o desemprego atingiu 5,4%, mínima histórica, com saldo positivo de 85 mil vagas formais em outubro. A renda média dos trabalhadores formais alcançou cerca de de R$ 3.477 mensais, sustentando a demanda interna. A taxa Selic permanece elevada, em 15% ao ano, enquanto o câmbio segue volátil, refletindo sobretudo fatores externos.
Do ponto de vista analítico, os modelos IS apresentados nos Working Papers do Banco Central do Brasil, em particular o Working Papers 001, baseiam-se em um arcabouço novo-keynesiano semi-estrutural, no qual o hiato do produto é explicado por condições monetárias, expectativas e choques reais. Diferentemente da IS tradicional, o foco não está no nível do PIB, mas no desvio em relação ao produto potencial, conectando diretamente o modelo à condução da política monetária. Nesse contexto, juros reais acima da taxa neutra contraem a atividade, enquanto juros abaixo desse nível estimulam a demanda, ao passo que choques fiscais, externou ou de confiança deslocam a curva IS.
O modelo estimado nesta semana segue essa lógica, tendo o hiato do produto como variável central. A especificação empírica incorpora duas defasagens do hiato, capturando a persistência do ciclo econômico, além da taxa Selic como principal instrumento de política monetária e do resultado primário do setor público como proxy do impulso fiscal. Essa estrutura permite avaliar, de forma simples e transparente, como política monetária, política fiscal e inércia cíclica interagem na determinação do nível de atividade em relação ao produto potencial.
A estimação para o período de janeiro de 2003 a novembro de 2025 revela uma economia marcada por forte persistência cíclica e elevada sensibilidade às condições monetárias. Os coeficientes do hiato defasado indicam que choques de atividade se propagam no tempo, mas tendem a se corrigir gradualmente. A Selic aparece como o principal instrumento de desaceleração da demanda, com efeito negativo expressivo sobre o hiato, confirmando a eficácia da política monetária. O resultado primário do setor público atua como fator de deslocamento da curva IS, sugerindo que impulsos fiscais podem mitigar o aperto monetário.
Com base de dados de janeiro de 2003 a novembro de 2025, obtemos os seguintes resultados
Variável Explicada | Constante | Hiato (t-1) | Hiato(t-2) | Selic(t-1) | NFSP(t-1) |
Hiato | 4.381,01 | 1,5475 | -0,5904 | -772,45 | 0,0235 |
Sinal Esperado | + | + | - | - | + |
Inrterpretação | Indica um componente estrutural positivo ao longo da amostra | Revela forte persistência Cíclica: choques de atividade tendem a se propagar para o período seguinte | Introduz mecanismo de correção dinâmica, evitando comportamento explosivo do ciclo econômico | Confirma o canal contracionista da política monetária: juros mais altos reduzem o hiato do produto | Sugere que impulsos fiscais expansionistas deslocam a curva IS para a direita elevando a atividade. |
Em síntese, a análise conjuntura e os resultado do modelo IS convergem para a leitura de que a economia brasileira atravessa uma fase de desaceleração controlada, marcada por crescimento baixo, inflação em processo de moderação e mercado de trabalho ainda resiliente. O hiato do produto surge como variável-chave para compreender esse momento, ao sintetizar os efeitos defasados da política monetária, a persistência do ciclo econômico e a infuência do impulso fiscal. Os resultados reforçam que a política monetária atua com defasagens relevantes, exigindo cautela na calibração da Selic, especialmente em um ambiente de elevada inércia cíclica. Nesse contexto, o acompanhamento do hiato do produto permanece fundamental para avaliar pressões inflacionárias futuras e orientar decisões de política econômica ao longo de 2026.

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