domingo, 28 de julho de 2024

 







O Escritório Financeiro da Sala de Ações da UFPB foi criado para dar treinamento aos integrantes do projeto no que diz respeito ao "atendimento" ao público dos principais assuntos de finanças pessoais. O objetivo é treinar alunos para a elaboração de planejamento financeiro, orçamento familiar, criação de reservas de emergências, soluções de dívidas, previdência privada e previdência social, investimentos em renda fixa e investimentos em renda variável. 


Nos últimos anos o projeto tem efetuado atendimentos de mais de 400 pessoas com uma taxa de performance de mais de 80% (ou seja, 80% de resoluções de problemas apontados pelos interessados consultados). A equipe é treinada por meio de oficinas, minicursos, workshops e treinamentos temáticos para despertar a solução dos desafios reais sobre Educação Financeira. Atualmente o projeto mantém uma forte parceria com o PROCON PB, construindo um ambiente de atendimento aos interessados que procuram o PROCON para negociações e mediações no que se refere as finanças pessoais. Nossa meta é oferecer uma sala ambiente para "educar" os interessados que, por ventura, tenham problemas de equilíbrio orçamentário. 


O Ambiente do Escritório Financeiro permite que se construa monitores de acompanhamento dos principais produtos financeiros que possam auxiliar os interessados em "checar" as respectivas taxas de juros que vigoram atualmente, bem como simular investimentos programados e seus respectivos custos financeiros


Vale ressaltar que este estudo tem a finalidade exclusivamente de aferição do aprendizado acadêmico.


ENDIVIDAMENTOS

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), cerca de 78,3% dos núcleos familiares do país tinham dívidas em abril de 2023, isso quer dizer que a cada 10 famílias brasileiras, 8 estavam endividadas. Esse número traduz um cenário de negligência educacional com as finanças familiares e pessoais da população, sendo as principais causas do endividamento tanto o descontrole financeiro, quanto situações emergenciais que tornam o consumidor dependente do crédito bancário.

O objetivo deste relatório é apresentar uma discussão sobre endividamento, proporcionando uma reflexão sobre o assunto. Além disso, busca orientar os agentes na sua tomada de decisão e, caso seja necessário contrair uma dívida, que isso ocorra de maneira planejada e que a dívida seja classificada como uma "dívida boa", ou seja que resulte em mais ganhos do que perdas.

É essencial que o credor (emprestador) conheça bem o devedor (tomador de empréstimos), a fim de avaliar o risco associado ao empréstimo. Existem diversas maneiras pelas quais o credor pode realizar essa avaliação, seja analisando em birôs de crédito, como o Serasa, o SPC e o Boa Vista. A busca é para identificar a própria relação histórica com o credor, ao verificar contas em atraso, negativadas e o compromisso do cliente com o banco. Quanto mais segura for essa relação, melhores serão as condições oferecidas ao devedor, facilitando o acesso ao crédito de forma sustentável e benéfica para ambas as partes envolvidas.



    A relação de risco pode ser rapidamente observada no mercado por meio das altas taxas de cartão de crédito e cheque especial, já que nessas modalidades há pouca ou nenhuma análise do tipo do devedor, conforme é visto no gráfico 01. Diferente de outras modalidades, que são consideradas mais burocráticas, mas que garantem uma menor taxa. Dessa forma, compreende-se que quanto maior o risco para o credor, maior será a taxa cobrada.

 

Em janeiro de 2020, percebe-se uma acentuada queda do cheque especial, bem como de outras modalidades, como o empréstimo pessoal e o cartão de crédito, em menor intensidade. Tal cenário é justificado com uma resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional) em novembro de 2019, que define novas regras para o cheque especial. 

 

As novas regras do cheque especial determinam que as taxas de juros cobradas não poderão ser superiores a 8% ao mês e 151,8% ao ano, com data de início em 6 de janeiro de 2020. Além disso, as instituições podem cobrar uma nova tarifa pelo produto, mesmo que não use o limite disponibilizado, podendo ser tarifado só por ter acesso ao produto. Esta tarifa poderá ser de até 0,25% sobre o os limites de cheque especial acima de R$500 e para limites de até R$500, não haverá cobrança da tarifa. Porém, a maioria das instituições financeiras do país informaram que não levarão adiante essa cobrança.

 

Além disso, o impacto da pandemia e a redução da Taxa Selic influenciou na queda das operações de crédito nos primeiros meses de 2020, reduzindo as taxas, voltando a subir em 2021 tanto a taxa básica de juros, quanto as taxas de crédito.


Cenário atual das taxas de crédito


Serão descritos as modalidades de crédito presentes no mercado brasileiro, bem como a variação das suas taxas no período em análise e simulações de custo para o tomador de crédito.


A taxa de cartão de crédito apresentou uma alta no mês de junho, em relação ao mês anterior, passando de 14,77% a.m. para 14,90% a.m., sendo o Banco ANDBANK o que cobra a menor taxa do mercado, no período de 8 de Julho de 2024 à 12 de Julho de 2024, de 1,15% a.m. ou 14,71% a.a. Com as dez menores sendo as seguintes instituições:




Vale ressaltar que os dados apresentados pelo Banco Central são fornecidos pelas instituições financeiras e se referem às taxas efetivamente praticadas (o que não corresponde, necessariamente, às taxas informadas pelas instituições) em todas as operações regulares de crédito. O cartão de crédito é concedido para os clientes que possuem uma conta corrente no banco, podendo haver outras taxas nessa relação, sendo necessário ver o CET (Custo Efetivo Total) antes de tomar o crédito. 


Para efeitos de simulação, ao fazer uma portabilidade da dívida do Banco RENDIMENTO para o ANDBANK, uma dívida inicial de R$1.000,00 deixaria de descontar R$1.091,50 no primeiro mês para descontar R$ 1.011,50, sendo essa diferença bem maior com o passar dos meses, de acordo com o figura 02:



Dessa forma, percebe-se que uma diferença de 1,77 pontos percentuais na taxa mensal, pode triplicar o montante da dívida no final do 5 anos, ao comparar o primeiro lugar do ranking com o segundo.




A taxa para Cheque Especial aumentou no mês de maio de 7,13% a.m. para 7,38% a.m, apresentando as seguintes instituições no ranking de menores taxas para o período de 22/07/2024 a 28/07/2024:

 




A taxa para Empréstimo Pessoal caiu de 5,68% a.m. para 5,39% a.m., e a taxa de Consignado - Setor Público aumentou de 1,71% a.m. para 1,73% a.m. Apresentando as seguintes instituições no ranking de menores taxas para o período de 22/07/2024 a 28/07/2024:

 





As taxas de financiamentos não apresentaram queda, o financiamento de veículos se manteve em 1,91% a.m, já o financiamento imobiliário aumentou de 0,91% a.m para 0,92% a.m, em junho. Segue o ranking do crédito habitacional:





Tabelas Comparativas entre a semana 28 e a semana 30 dos custos dos empréstimos


Semana28



Semana30



Por meio da tabela de comparativo de créditos pode-se verificar que as dívidas com o cartão de crédito possuem um maior custo, no ponto de vista do devedor. E em segundo lugar, o cheque especial, com características bem próximas ao cartão de crédito. Daí em frente as taxas vão diminuindo, com créditos considerados de menor risco para as instituições financeiras, as credoras.



    Percebe-se uma alta de R$751,41 na semana, no custo do rotativo do cartão de crédito, uma alta de R$302,14 no cheque especial, uma diminuição no custo do empréstimo pessoal de R$240,32, ou seja, ficando mais barato do que a semana 28, da mesma forma o consignado, o financiamento de veículos se manteve com o mesmo custo e o financiamento imobiliário teve um pequeno aumento, não afetando o custo do crédito no período de 24 meses de forma considerável.




Análise do Mercado de Crédito



 

O objetivo é estudar o movimento das taxas praticadas pelo mercado nas principais modalidades de crédito. As taxas observadas representam uma dinâmica cada vez mais preocupante pois estão atreladas ao risco envolvido na operação de crédito, dependendo dos agentes que fazem parte da operação, ou seja, as taxas das tabelas são uma média do mercado, e não necessariamente será a taxa vigente no contrato de crédito de uma pessoa específica, pois isso depende do risco que ela oferece ao banco.

 

A média divulgada pelo Banco Central reflete o que é praticado pelo mercado, e é verdade que em uma operação de crédito com um cartão de crédito será mais custoso para o cliente, ao comparar com um empréstimo pessoal, independente do perfil deste cliente, pois para o banco o risco será menor neste último.

No mês de junho, o cenário econômico apresentou estabilidade na meta da Selic, definida pelo Copom, o que manteve inalterada a taxa de captação dos bancos por meio dos CDBs. Além disso, observou-se uma queda no IPCA, que passou de 0,46% em maio para 0,21% em junho. Essa redução aumentou as expectativas de queda na Taxa Selic, no entanto, as taxas de juros de crédito não acompanharam essa tendência e, na verdade, aumentaram.

Para uma análise mais aprofundada do mercado de crédito, é necessário examinar os principais determinantes da oferta e demanda de crédito durante o período. O cenário de alta para os créditos bancários, especialmente o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial, é influenciado pelo maior custo-oportunidade oferecido pelos títulos públicos do Governo, que têm rentabilidade indexada à Taxa Selic, atualmente em 10,50% a.a. (0,84% a.m.). Esses títulos são considerados mais seguros pelos bancos em comparação aos empréstimos pré-garantidos, incentivando uma redução na oferta de crédito. No entanto, é importante considerar outros fatores, como a taxa de inadimplência e mudanças no spread bancário (spread do ICC) no mês de junho.

Segundo dados do Banco Central, a taxa de inadimplência do crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) diminuiu 0,1 ponto percentual (p.p.) no mês e 0,3 p.p. em doze meses, situando-se em 3,2% em junho. Essa redução na inadimplência tende a aumentar a oferta de crédito. Em relação ao Indicador de Custo do Crédito (ICC), que representa o custo médio mensal que famílias e empresas pagam por empréstimos no sistema financeiro, este se manteve estável no mês.

Considerando esse cenário, houve um aumento na oferta de crédito, evidenciado pelo crescimento de 1,2% no estoque total de crédito do SFN, que alcançou R$6,0 trilhões em junho, com a queda na inadimplência e a estabilidade dos custos contribuindo para esse aumento. Do lado da demanda, o crescimento observado pode ser atribuído à queda nos preços, que incentivou o consumo da população, resultando em uma maior procura por crédito. Todos esses fatores culminaram no aumento das taxas de crédito em junho de 2024.

O maior impacto de taxas altas de crédito está no desincentivo à produção, ou seja, ao empreendedorismo e investimentos em capital, dado que o custo do crédito está alto, aumentando ainda mais o risco da iniciativa privada e do pequeno empreendedor. O que direciona o mercado para investimentos em Renda Fixa, com opções de investimento financeiro que possuem taxas atreladas à taxa Selic, apresentando rentabilidades atrativas. Além disso, taxas de créditos muito altas intensificam o endividamento das famílias, o que pode levar à queda do consumo e consequentemente menor arrecadação do Governo para investir em bens públicos.

 

 

João Gabriel Ferreira Dias - Assessor Acadêmico da Sala de Ações

Prof. Dr. Sinézio Fernandes Maia - Coordenador da Sala de Ações

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