Selic Alta, Real Forte: A Mecânica da Paridade Descoberta de Juros na Conjuntura Atual
Prof. Sinézio Fernandes Maia
22/11/2025 – 18h17
O comportamento recente do câmbio brasileiro tem refletido, de forma bastante nítida, a interação entre juros domésticos elevados e a desaceleração da política monetária americana. As matérias da semana mostram que o real se manteve valorizado, com o dólar operando consistentemente abaixo de R% 5,30, mesmo diante de um ambiente de fluxo cambial negativo no ano. Esse desempenho decorre sobretudo do diferencial de juros favorável ao Brasil, destacado pelo Banco Central e reforçado por análises de mercado que sublinham a atratividade das operações de carry trade. A estabilidade das expectativas de inflação e câmbio no Focus contribuiu para reduzir a volatilidade, enquanto a alta da bolsa sinalizou entrada de capital estrangeiro em ativos de risco. Relatórios do Itaú Asset e Private indicam que os cortes do FED ampliam o diferencial Brasil-EUA, reforçando o suporte ao real no curto prazo. Mesmo com ajustes pontuais do dólar, o consenso das matérias é que a moeda brasileira permanece resiliente e relativamente descolada do movimento global, graças à política monetária restritiva. Em síntese, a dinâmica cambial da semana está profundamente ancorada no diferencial de juros e na percepção de risco – exatamente o mecanismo previsto pela Paridade Descoberta de Juros (UIP) que orienta a análise desta fase do ciclo macroeconômico.
No campo estatístico, até meados de novembro observam-se os seguintes resultados: a mediana das expectativas de IPCA para o ano de 2025 permanece em 4,55%, segundo o Boletim Focus; a projeção para a taxa de câmbio segue em torno de R$5,41/US$, sem mudanças significativas; no exterior, o Federal Reserve (FED) mantém a taxa de juros entre 3,75% e 4,00%, com nível efetivo próximo de 3,88%; o Brazil 5Y CDS recuou para a faixa de 140-145 pontos-base, indicando melhora no prêmio de risco. Esses dados reforçam que, com juros domésticos elevados, câmbio projetado relativamente estável e risco-país em redução, o ambiente permanece favorável ao diferencial de juros e, consequentemente, às operações de carry trade. Isso sustenta, tanto na prática quanto na teoria, o canal de paridade descoberta de juros.
Os aspectos teóricos de determinação da taxa de câmbio – nominal ou real – envolvem a interação entre fluxos comerciais, fluxos financeiros, expectativas e política macroeconômica. Ao longo do tempo, diferentes modelos buscaram explicar essa dinâmica, cada um enfatizando fundamentos específicos. O principal modelo seminal parte da Paridade de Poder de Compra (PPC), segundo o qual, no longo prazo, a taxa de câmbio deve refletir o diferencial de preços entre dois países. Formalmente, a taxa de câmbio nominal corresponderia à razão entre os níveis de preços doméstico e externo. Trata-se de uma abordagem adequada a longo prazo, mas que ignora os fluxos financeiros de ativos. O segundo modelo relevante é o modelo monetário de câmbio, que enfatiza oferta de moeda, renda e taxas de juros. A ideia central é que o câmbio se ajusta para equilibrar estoques monetários entre países:
O Problema é que o modelo pressupõe ajuste instantâneo, o que é irrealista em períodos de crise ou de fluxos especulativos intensos. Por isso, muitas análises modernas passaram a incorporar elementos de modelos de apreçamento de ativos, tratando o câmabio como o preço de um ativo cujo retorno depende de diferencial de juros política monetária, risco e prêmio requerido pelos investidores. Outro conjunto importante de modelos envolve a Paridade Coberta de Juros (CIP) e a Paridade Descoberta de Juros (UIP).
A CIP determina que os retornos de ativos em moedas diferentes devem ser iguais quando protegidos por hedgecambial:
Por funcionar quase perfeitamente em mercado líquidos, não explica carry trade, pois neutraliza o risco. Já a UIP, núcleo dos trabalhos empíricos recentes, estabelece:
Ou seja, se o juro doméstico é maior que o externo, espera-se que a moeda doméstica se deprecie no futuro para compensar esse ganho. Se a depreciação esperada não ocorre, surge um retorno líquido – base do carry trade – que atrai capital e aprecia o câmbio no curso prazo.
As principais vantagens da UIP são: a) conectar diretamente diferencial de juros e câmbio esperado; b) explicar por que juros altos (Selic) atraem capital no curto prazo; c) permitir modelar carry trade como arbitragem de expectativas; d) integrar política monetária, risco e comportamento cambial; funcionar bem em horizontes de curto e médio prazo, especialmente em economias abertas com juros elevados.
À guisa de conclusão, a Paridade Descoberta de Juros oferece o elo que fundamenta o comportamento do real nas últimas semanas: com a Selic em 15% e juros americanos próximos de 4%, o diferencial cria forte incentivo a posição compradas em real. Na ausência de expectativas de depreciação futura proporcional ao diferencial, investidores realizam carry trade, levando à apreciação da moeda brasileira. Portanto, a dinâmica recente – dólar abaixo de R$ 5,30 e estabilidade do real – se encaixa diretamente na lógica da UIP: juros altos, risco moderado e câmbio ancorado tendem a atrair capital e sustentar a valorização da moeda doméstica.

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