domingo, 25 de agosto de 2024

 














O Escritório Financeiro da Sala de Ações da UFPB foi criado para dar treinamento aos integrantes do projeto no que diz respeito ao "atendimento" ao público dos principais assuntos de finanças pessoais. O objetivo é treinar alunos para a elaboração de planejamento financeiro, orçamento familiar, criação de reservas de emergências, soluções de dívidas, previdência privada e previdência social, investimentos em renda fixa e investimentos em renda variável. 


Nos últimos anos o projeto tem efetuado atendimentos de mais de 400 pessoas com uma taxa de performance de mais de 80% (ou seja, 80% de resoluções de problemas apontados pelos interessados consultados). A equipe é treinada por meio de oficinas, minicursos, workshops e treinamentos temáticos para despertar a solução dos desafios reais sobre Educação Financeira. Atualmente o projeto mantém uma forte parceria com o PROCON PB, construindo um ambiente de atendimento aos interessados que procuram o PROCON para negociações e mediações no que se refere as finanças pessoais. Nossa meta é oferecer uma sala ambiente para "educar" os interessados que, por ventura, tenham problemas de equilíbrio orçamentário. 


O Ambiente do Escritório Financeiro permite que se construa monitores de acompanhamento dos principais produtos financeiros que possam auxiliar os interessados em "checar" as respectivas taxas de juros que vigoram atualmente, bem como simular investimentos programados e seus respectivos custos financeiros


Vale ressaltar que este estudo tem a finalidade exclusivamente de aferição do aprendizado acadêmico.


               MONITORAMENTO SEMANAL  - SEMANA 34


Dívidas

 

             Em julho de 2023, aproximadamente 80% das famílias estão endividadas, segundo pesquisa da CNC (Peic). As dívidas são um reflexo de nossos hábitos, muitas vezes originadas pela falta de organização financeira, ou então por motivos imprevistos, em que uma reserva de emergência seria necessária. Dessa forma, as dívidas passam a ser inevitáveis em algumas situações, sendo necessária uma análise de crédito antes de tomar essa decisão.

O objetivo deste relatório é apresentar uma visão abrangente sobre o mundo das dívidas, proporcionando uma compreensão clara de sua lógica. Além disso, busca orientar investidores na sua tomada de decisão e, caso seja necessário contrair uma dívida, que isso ocorra de maneira racional e que a dívida seja classificada como uma "dívida boa", ou seja que resulte em mais ganhos do que perdas.

Em uma relação de crédito, sempre há a presença de duas partes: o credor e o devedor. O credor é a parte que concede o empréstimo, acreditando no retorno do valor emprestado, enquanto o devedor é aquele que solicita o empréstimo e se compromete a devolvê-lo conforme acordado. Quanto mais segura for essa relação, melhores serão as condições oferecidas ao devedor, facilitando o acesso ao crédito de forma sustentável e benéfica para ambas as partes envolvidas. A lógica do crédito é bem explicada no relatório da semana 26.


    A relação de risco é observada no mercado por meio das altas taxas de cartão de crédito e cheque especial, já que nessas modalidades há pouca ou nenhuma análise do tipo do devedor, conforme é visto no gráfico acima. Diferente de outras modalidades, que são consideradas mais burocráticas, mas que garantem uma menor taxa. Dessa forma, compreende-se que quanto maior o risco para o credor, maior será a taxa cobrada.

 

    Em janeiro de 2020, percebe-se uma acentuada queda do cheque especial, bem como de outras modalidades, como o empréstimo pessoal e o cartão de crédito, em menor intensidade. Tal cenário é justificado com uma resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional) em novembro de 2019, que define novas regras para o cheque especial. Mais detalhes estão no relatório da semana 30




Cenário atual das taxas de crédito

 

            Inicialmente cabe identificar o nível de crédito e a sua dinâmica no período de julho e agosto, para assim analisar possíveis causas e consequências deste cenário. Dessa forma, serão descritos as modalidades de crédito presentes no mercado brasileiro, bem como a variação das suas taxas no período em análise e simulações de custo para o tomador de crédito.


A taxa de cartão de crédito apresentou uma alta no mês de junho, em relação ao mês anterior, passando de 14,77% a.m. para 14,90% a.m., em que até o momento os dados de taxas não foram atualizados para o mês atual. No entanto, percebe-se um movimento entre as linhas de crédito de diferentes bancos, visto na tabela abaixo.

O cartão de crédito rotativo apresentou uma baixa no ranking das instituições com menores taxas de crédito, com algumas das principais instituições também apresentando uma baixa em relação ao início de julho, com exceção do Santander e do Bradesco, de acordo com dados divulgados no Banco Central no período de 27/06/2024 a 03/07/2024 e no período atual.



Vale ressaltar que os dados apresentados pelo Banco Central são fornecidos pelas instituições financeiras e se referem às taxas efetivamente praticadas (o que não corresponde, necessariamente, às taxas informadas pelas instituições) em todas as operações regulares de crédito. O cartão de crédito é concedido para os clientes que possuem uma conta corrente no banco, podendo haver outras taxas nessa relação, sendo necessário ver o CET (Custo Efetivo Total) antes de tomar o crédito. 

Para efeitos de simulação, ao fazer uma portabilidade da dívida do Banco PAN para o STELLANTIS, uma dívida inicial de R$1.000,00 deixaria de descontar R$1.095,90 no primeiro mês para descontar R$ 1.026,60, sendo essa diferença bem maior com o passar dos meses, de acordo com o gráfico abaixo:

 



 


Dessa forma, percebe-se que uma diferença de 1,5 pontos percentuais na taxa mensal, mais do que duplica o montante da dívida no final do 5 anos, ao comparar o primeiro lugar do ranking com o terceiro.

 

A taxa para Cheque Especial aumentou no mês de maio de 7,13% a.m. para 7,38% a.m. em junho, porém apresentou, no mês atual, menores taxas, se comparado ao início do mês de julho, de acordo com o ranking produzido pelo Banco Central. Com as seguintes instituições no ranking de menores taxas para o período de 05/08/2024 a 09/08/2024:




Ao comparar o mês de maio e junho, a taxa para Empréstimo Pessoal caiu de 5,68% a.m. para 5,39% a.m., e a taxa de Consignado - Setor Público aumentou de 1,71% a.m. para 1,73% a.m.. No entanto, no mês atual, a primeira modalidade apresentou taxas maiores em agosto para as instituições do ranking divulgado pelo Bacen, quando comparamos com o início de julho, e a segunda mostrou menores taxas ao fazer a mesma comparação. Dessa forma, resultando nas seguintes instituições no ranking de menores taxas para o período de 05/08/2024 a 09/08/2024:





As taxas de financiamentos não apresentaram queda, o financiamento de veículos se manteve em 1,91% a.m., já o financiamento imobiliário aumentou de 0,91% a.m. para 0,92% a.m., em junho. Em contrapartida, no mês atual, as taxas imobiliárias foram menores, ao comparar o ranking do início de julho com o ranking atual. Segue o ranking do crédito habitacional:


Para entender os efeitos de uma alteração na taxa, caberia agora fazer um comparativo semanal, da semana atual (34) com a semana 30, no período de 24 meses, no entanto, não foram divulgadas as taxas atualizadas até o momento, por isso, recomendo a leitura do relatório da semana 30.


Análise do Mercado de Crédito

 

A análise de crédito tem o objetivo de entender o movimento das taxas praticadas pelo mercado nas modalidades apresentadas. E vale se atentar que as taxas estão atreladas ao risco envolvido na operação de crédito, dependendo dos agentes que fazem parte da operação, ou seja, as taxas das tabelas são uma média do mercado, e não necessariamente será a taxa vigente no contrato de crédito de uma pessoa específica, pois isso depende do risco que ela oferece ao banco.

Apesar disso, a média do Banco Central reflete o que é praticado pelo mercado, e é verdade que em uma operação de crédito com um cartão de crédito será mais custoso para o cliente, ao comparar com um empréstimo pessoal, independente do perfil deste cliente, pois para o banco o risco será menor neste último.

No mês de agosto, o cenário econômico apresentou estabilidade na meta da Selic, definida pelo Copom na reunião passada, com o Relatório Focus demonstrando perspectivas estáveis até o final do ano. No entanto, o mercado não entrou em sintonia com as decisões do relatório, com uma perspectiva um pouco superior, de 10,68% para dezembro deste ano, e ainda maior para o longo prazo, de acordo com análises de gráfico no site “TradingView”, na última sexta (23), mostrando uma tendência de alta. Além disso, observou-se uma alta no IPCA, que passou de 0,21% em junho para 0,38% em julho, segundo IBGE. Esses fatores poderiam resultar em uma maior oferta de crédito, já que a tendência está no aumento da taxa de crédito, o que levaria os bancos a aumentarem suas taxas de captação para compensar os depósitos em investimentos atrelados ao CDI, de seus clientes, mantendo ou aumentando o seu SPREAD. Além de que o aumento da inflação pode aumentar a demanda por crédito, dado os preços mais caros, contribuindo para o aumento da taxa. No entanto, esses fatores não foram vistos ao analisar o ranking divulgado pelo Bacen, com taxas menores para o mês de agosto.

Para uma análise mais aprofundada do mercado de crédito, é necessário examinar os principais determinantes da oferta e demanda de crédito durante o período, como a taxa de inadimplência e mudanças no spread bancário (spread do ICC) no mês de julho. No entanto, ainda não há atualizações dessas informações para o período em análise.

Dessa forma, conclui-se que houve no mês uma oportunidade de obter crédito, apresentando menores taxas quando comparadas aos meses anteriores.

O maior impacto de taxas altas de crédito está no desincentivo à produção, ou seja, ao empreendedorismo e investimentos em capital, dado que o custo do crédito está alto, aumentando ainda mais o risco da iniciativa privada e do pequeno empreendedor. O que direciona o mercado para investimentos em Renda Fixa, com opções de investimento financeiro que possuem taxas atreladas à taxa Selic, apresentando rentabilidades atrativas. Além disso, taxas de créditos muito altas intensificam o endividamento das famílias, o que pode levar à queda do consumo e consequentemente menor arrecadação do Governo para investir em bens públicos.

 

 

João Gabriel Ferreira Dias - Assessor Acadêmico da Sala de Ações

Prof. Dr. Sinézio Fernandes Maia - Coordenador da Sala de Ações

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