Política Monetária e Regra de Taylor: Tendências
Prof. Sinézio Fernandes Maia
08/11/2025 – 11h25
A última semana de outubro foi marcada por sinais de continuidade da postura monetária restritiva no Brasil. O Boletim Focus de 27/10 registrou queda nas expectativas de inflação para 2025, aproximando-as do limite superior da meta, enquanto a projeção da Selic para o fim de 2025 permaneceu em 15%, reforçando a leitura de pausa prolongada pelo Copom. No câmbio, o dólar fechou a semana em R$5,38, com leve recuo de 0,25%, mas ainda em patamar elevado, refletindo a volatilidade internacional diante dos movimentos das Treasuries e dos dados domésticos. Na renda fixa, a curva de juros futuro recuou na segunda-feira (27/10), mas voltou a abrir na quarta (29/10), evidenciando sensibilidade aos cenário externo e ao Caged, mantendo os vencimentos mais longos com prêmio elevado. A última decisão do Copom manteve a Selic em 15% ao ano, com tom hawkish-paciente - postura firme e vigilante contra a inflação, porém sem sinalizar altas adicionais, indicando uma pausa prolongada. O quadro aponta para uma política monetária mais apertada do que sugeriria a Regra de Taylor, diante do hiato negativo e da pressão sobre núcleos, postergando a discussão sobre um eventual ciclo de cortes.
O painel de indicadores da semana reforça o diagnóstico restritivo da política monetária. A Selic permanece em 15% ao ano, segundo a última decisão do Copom, enquanto a inflação acumulada em 12 meses alcançou 5,17% em setembro, com divulgação do IPCA de outubro prevista para 11/11/2025. As expectativas do Focus projetam IPCA entre 4,7% e 4,9% para 2025 e Selic de 15% no encerramento do próximo ano, sugerindo manutenção da taxa em terreno contracionista. A meta de inflação segue em 3,0% (±1,5p.p.), indicando desvio relevante entre expectativas e objetivo oficial. No câmbio, a média diária entre R$ 5,34 e R$ 5,38 manteve pressão sobre preços tradables e expectativas. A curva de juros futuros oscilou – queda em 27/10 e abertura 29/10 – refletindo sensibilidade ao cenário externo e aos dados domésticos. Por fim, o Ipea aponta hiato do produto negativo em 2025, com maior ociosidade no 2o trimestre, reforçando o quadro de atividade moderada e justificando, sob a ótica da Regra de Taylor, taxa de juros sugerida inferior ao vigente.
Do ponto de vista teórico, a Regra de Taylor é amplamente utilizado para orientar a definição da taxa básica de juros com base em fundamentos macroeconômicos, relacionando política monetária, inflação e atividade econômica. A regra estabelece que o Banco Central deve ajustar a taxa de juros considerando dois desvios principais: (i) a diferença entre a inflação esperada e a meta oficial e (ii) o hiato do produto, que reflete se a economia opera acima ou abaixo de seu potencial. Quando a inflação supera a meta ou a economia está aquecida, a regra sugere juros mais altos; quando abaixo, sugere juros menores. Embora não seja vinculante, seu uso permite avaliar se a política monetária está expansionista, neutra ou contracionista. Para o mercado de capitais, a Regra de Taylor funciona como um “termômetro de juros justos”, ao permitir comparar a Selic vigente com a taxa de referência sugerida, antecipando possíveis ajustes da política monetária e impactos sobre a curva de juros, o câmbio e os ativos financeiros.
Com base nos parâmetros adotados – juros neutros (r* = 5,0%), meta de inflação (p* = 3,0%), inflação esperada (pe = 4,7%), peso da inflação (a = 1,5) e do hiato (b = 0,5) – a Regra de Taylor sugere uma taxa nominal em torno de 12,25% ao ano para um hiato neutro. Considerando cenários alternativos, o resultado varia entre 11,75% (hiato de -1 p.p.) e 12,75% (hiato de +1 p.p.). Como a Selic vigente está em 15%, observa-se um desvio acima do nível sugerido pelo modelo, indicando política monetária contracionista em relação ao parâmetro de referência. Em termos práticos, o Banco Central opera com juros superiores ao “nível justo” estimado pela regra, reforçando um viés de contenção da inflação – ou seja, um prêmio de precaução diante de riscos domésticos e externos.
A compreensão da conjuntura atual pode ser aprofundada por meio de modelos econométricos que estimem a dinâmica da Regra de Taylor e a transmissão da política monetária. Entre as alternativas, destaca-se a especificaçãoforward-looking via GMM (com MQO/MV como referência), com expectativas do Focus como instrumentos e inclusão de câmbio e prêmio de risco como controles; modelos de parâmetros variáveis (estado-espaço + filtro de Kalman), permitindo captar mudanças de regime e de comunicação do BC; SVAR monetário com identificação por restrições de curto prazo e de sinais, extraindo choque de regra; modelos de Markov-Switching com dois regimes e probabilidades endógenas; e abordagens ARDL/MIDAS, com nowcasts de hiato e núcleos e uso de dados diários de DI e câmbio para mapear a reação intra-semanal e o pass-through à curva.
Em síntese, o panorama da semana reforça que a política monetária brasileira permanece em campo claramente contracionista, com a Selic acima do nível sugerido pela Regra de Taylor, mesmo diante da desaceleração gradual das expectativas inflacionárias. A combinação de inflação ainda acima da meta, hiato negativo e volatilidade cambial indica que o Banco Central mantém postura firme e cautelosa para assegurar a convergência dos preços ao intervalo de tolerância. A aplicação da Regra de Taylor apontou para uma taxa inferior a Selic vigente, sugerindo a existência de um “prêmio de precaução” incorporado à política monetária. Nesse contexto, torna-se relevante avançar para um monitoramento sistemático e transparente da Regra de Taylor, adicionando expectativas, núcleos, câmbio e hiato em diferentes especificações. Tal acompanhamento permitirá avaliar, em tempo real, a distância entre a taxa “justa” e a taxa praticada, contribuindo para decisões mais informadas nos mercados financeiros e de capitais. A proposta final e instituir um Painel Semanal de Política Monetária, com atualização automática de dados, cálculo da regra e leitura analítica, fortalecendo a compreensão e a capacidade de antecipação em relação aos movimentos do Banco Central.

0 comments:
Postar um comentário
Agradecemos seu comentário.