sexta-feira, 31 de outubro de 2025

 



EXPECTATIVAS E CENÁRIO MACROECONÔMICO BRASILEIRO / 2025-2026

Prof. Sinézio Fernandes Maia

28/10/2025 – 9h15

 

 

A economia brasileira chega ao final de outubro de 2025 envolta em um ambiente de pressão fiscal, juros elevado, déficits externos crescentes e incertezas eleitorais. Para completar ainda á uma discussão sobre um pacote de R$ 100 bilhões para 2026, agravando ainda mais o debate público sobre sustentabilidade da dívida e a condução da política monetária. Para entender ainda mais o cenário, busca-se compreender como os fundamentos fiscais, a composição da dívida, o balanço externo e o diferencial de taxas de juros Selic-FedFunds e seu impacto na determinação da taxa de câmbio. O desafio é duplo: interpretar o cenário macroeconômico atual e produzir um roteiro de análise dos dados por meio de modelos econométricos para definições de cada grandeza, permitindo assim, um exercício de modelagem e produção de testes para sustentabilidade fiscal e determinação cambial via paridade de juros. 

 

O quadro fiscal nos quesitos dívida alta e juros sugerem uma análise pormenorizada sobre o relatório do Banco Central que reportou um déficit primário de R$ 17,3 bilhões em agosto de 2025, resultado que mantém o saldo em terreno negativo nos últimos 12 meses. A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) atingiu 64,2% do PIB, enquanto a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) alcançou 77,5% do PIB, equivalentes a cerca de R$ 9,6 trilhões.  Esses números revelam uma dinâmica de endividamento estrutural. Mesmo com alguma estabilidade nominal, o peso dos juros nominais – em torno de 11% ao ano sobre o estoque – continua a ser o principal vetor de crescimento da dívida. Em termos simples, a taxa de juros média incidente sobre o passivo do governo supera a taxa de crescimento nominal do PIB, produzindo uma trajetória explosiva se o superávit primário não reagir. Na literatura convencional a sustentabilidade da dívida depende da condição: 

                                                                   

Onde (r) é a taxa real de juros, (g) o crescimento real do PIB e (RP) superávit primário em proporção ao PIB. Quando (r>g) - como no Brasil de hoje -, a dívida tende a crescer, a menos que o setor público gere superávits robustos e persistentes. Para 2026, o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) projeta um superávit primário modesto de 0,25% do PIB, o que dificilmente conterá a relação dívida/PIB sem receitas extraordinárias ou corte real de despesas. Assim, a percepção de risco fiscal persiste, afetando a curva de juros e o câmbio.

Já o perfil observado da dívida desdenha da confiança e vulnerabilidade. Mais importante que o tamanho da dívida é a sua composição por indexador e prazo de vencimento. Segundo o Relatório Mensal da Dívida do Tesouro Nacional, o estoque da Dívida Pública Federal (DFP) atingiu R$ 8,145 trilhões em agosto de 2025, com custo médio de 11,65% ao ano. A estrutura da dívida mostra predominância de títulos pos-fixados à Selic, seguidos por prefixados e indexados à inflação (IPCA). Essa composição reflete a estratégia do Tesouro de priorizar liquidez e previsibilidade no curto prazo, em detrimento de estabilidade de custos no longo prazo. Mais títulos pós-fixados significam maior vulnerabilidade a oscilações da Selic: a cada aumento da taxa básica, o custo da dívida sobe automaticamente. Por outro lado, o aumento da parcela prefixada e IPCA-atrelada sugere confiança dos investidores, que aceitam travar taxas nominais ou reais por prazos mais longos. 

O setor externo tem métricas que podem refletir o espelho da poupança doméstica. O Balanço de Pagamentos de agosto mostrou déficit de transações correntes de US$ 4,7 bilhões, acumulando US$ -76,2 bilhões, ou seja, 3,5% do PIB em 12 meses. Apesar de o saldo comercial continuar positivo (US$ 5,5 bilhões no mês, as contas de serviços e rendas permanecem negativas. Esse quadro reflete uma poupança interna insuficiente, que obriga o país a recorrer a financiamento externo para sustentar o investimento. Quando o capital estrangeiro se retrai – por incertezas fiscais ou geopolíticas – o câmbio tende a se depreciar, elevando a inflação de custos e pressionando o Banco Central a reagir com juros mais altos. Assim, a conta externa é uma ponte direta entre a política fiscal e a política monetária.

Juros domésticos, juros internacionais e taxa de câmbio apresentam trajetórias que permitem identificar padrões de recorrências. A taxa Selic está travada em 15% ao ano, contra um FED Funds Target entre 4 e 4,25% após o corte de setembro demonstra um diferencial de juros de cerca de 11 pontos percentuais, o que sustenta o chamado carry trade – operações que buscam ganhos na arbitragem de taxas entre moedas. Mesmo assim, o real segue próximo de R$ 5,40/US$, pois o canal de risco fiscal tem neutralizado o ganho do diferencial. O prêmio exigido pelos investidores para financiar a dívida pública é cada vez mais dependente da percepção de credibilidade fiscal e política. Do ponto de vista teórico, a paridade descoberta de juros estabelece a seguinte relação: 

 

onde  é a variação esperada do câmbio. Quando o diferencial de juros não traduz em apreciação cambial, isso indica prêmios de risco não observáveis – elemento que pode ser captado empiricamente por um termo de erro correlacionado com as variáveis fiscais ou políticas.

 Por fim, pode-se elencar a atividade econômica e seus impactos sobre a inflação e a forte conexão com a Regra de Taylor. A inflação de 2025 gira em torno de 4,6% (IPCA-12m), próxima da meta de 4,5%, mas o Banco Central mantém juros altos para garantir a convergência das expectativas. O PIB deve crescer 2,3% no ano, sugerindo um hiato do produto próximo da neutralidade.  A relação entre a inflação e a atividade é sintetizada pela Curva de Phillips, que liga o desvio do PIB potencial às variações de preços. Quando o produto efetivo supera o potencial, a pressão de demanda acelera a inflação; quando fica abaixo, há espaço para afrouxamento monetário. Neste momento entra a conexão com a Regra de Taylor, ou seja, a formalização dessa reação de política monetária de reação dos juros à inflação e ao hiato do produto,

                                          

No caso brasileiro, a taxa neutra de juros (r*) é estimada entre 4,5% e 5% ao ano. Com inflação (p) em torno de 4,6% e Selic nominal (i) em 15%, temos juros reais ex-ante próximos de 10,4%, o que indica uma postura fortemente contracionista – típica de uma autoridade monetária preocupada com choques fiscais e externos. 

Em síntese o Brasil de 2025-2026 oferece um cenário raro: dívida elevada, juros de dois dígitos, inflação moderada, contas externas deficitárias e riscos fiscais latentes. Em Meio a esses vetores, compreender as interações entre política fiscal, monetária e cambial é fundamental. O desafio agora é empírico, ou seja, estudar a base de dados com critério e respeitar as trajetórias prováveis, podendo assim, discutir honestamente a economia brasileira, sem a coloração argumentativa tão em moda nas atuais discussões e debates.

 

 

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