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sábado, 15 de novembro de 2025

SalaNews - Conjuntura Macroeconômica Nr.004




 

Atividade Econômica: Trajetória do PIB Potencial e Cenário para o Hiato do Produto

Prof. Sinézio Fernandes Maia

15/11/2025 – 18h30

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A atividade econômica brasileira iniciou novembro sob sinais de moderação, com indicadores apontando desaceleração na margem após um período de recuperação parcial. A ausência da divulgação do IBC-BR na semana direcionou o foco para a produção industrial, que registrou queda de 0,4% em setembro, sinalizando perda de fôlego no terceiro trimestre. Embora o PIB efetivo tenha exibido crescimento em linha com as projeções para 2025, ele permanece abaixo do PIB potencial, estimado por instituições como o IPEA e o Banco Central, configurando um hiato do produto negativo. Em outras palavras, a economia opera com ociosidade e capacidade produtiva subutilizada. Esse hiato contribui para reduzir pressões inflacionárias de demanda, mas também indica um ritmo de crescimento aquém do desejável para ganhos mais robustos de renda e emprego no médio prazo. 

No mercado de trabalho, a taxa de desemprego de 5,6% demonstra resiliência da ocupação, embora com impactos distintos entre os setores, o que sustenta o desempenho dos serviços, mas não reverte a perda de tração da indústria. A prévia inflacionárias do IPCA-15 mostrou arrefecimento na margem, enquanto o Boletim Focus indicou nova redução das expectativas para o IPCA de 2025, aproximando-as do teto da meta. Nesse contexto, a política monetária permanece restritiva, com a Selic mantida em 15%, compatível com a necessidade de consolidar a desinflação antes de qualquer decisão de flexibilização.

Ressaltando que o hiato negativo observado atualmente no Brasil indica capacidade ociosa e tende a moderar a inflação de demanda, representa uma variável central nas decisões do Copom e na aplicação da Regra de Taylor. Para melhor identificar o cenário é preciso definir que o PIB Efetivo, nível de produção corrente da economia, reflete o que está sendo produzido com a utilização atual de capital, trabalho e tecnologia. Já o PIB potencial representa o nível máximo de produção sustentável sem gerar pressões inflacionárias e corresponde ao crescimento compatível com o pleno emprego dos fatores. Assim, a medida central aqui é o Hiato do Produto, ou seja, a diferença percentual entre o PIB efetivo e o PIB potencial, indicador-chave para a nossa política monetária. Como interpretar? Se o hiato transitar no campo positivo significa que a economia efetiva está acima do potencial (superaquecida), ou seja, tem a implicação de aumentar a pressão inflacionária (o que forçaria a manutenção de juros alto). Por outro lado, se o Hiato sugerir sinal negativo significa que a economia está abaixo do potencial (ociosidade) causando menor pressão sobre os níveis de preços (o que traria abertura para redução dos juros). Quando o hiato está próximo de zero a atividade se apresenta no nível considerado sustentável, ou seja, sem a pressão nos níveis de preços e como tendência de ancoragem nos juros próximos ao neutro.

Os indicadores mais recentes reforçam um quadro de moderação da atividade no início de novembro. A inflação medida pelo IPCA-15 segue arrefecendo, ainda que os núcleos exijam cautela. A produção industrial (PIM) registrou queda na variação mensal, com perda de difusão entre os setores. No mercado de trabalho, a PNAD Contínua apontando a taxa de desocupação de 5,6%, acompanhada de um leve avanço do rendimento real, sugere resiliência do consumo. O Boletim Focus manteve projeções estáveis para PIB e Selic, com nova redução nas expectativas de IPCA para 2025. 

O acompanhamento da atividade econômica pode ser aprimorado por um conjunto de modelos complementares que combinam leitura de curto prazo e compreensão estrutural do ciclo. Para estudos imediatos sugere-se modelos para prever o PIB atual, utilizarmos os  modelos que combinam MQO ou MV com modelos do tipo ARIMA e os modelos do tipo ARDL (autorgressive distributed lag model) integrando PIM, varejo, serviços, ICC e dummies de choques, com erros robustos (HAC). Para a inflação, uma abordagem de projeção de curto prazo integra ARIMA com regressões por grupos, incorporando choques de energia (Brent/câmbio), alimentos (FAO/CEPEA) e serviços (renda/ocupação). A dinâmica entre hiato do produto, expectativas e preços pode ser captada pela Curva de Phillips Ampliada (NKPC), estimada por GMM, usando PNAD/IBC-Br como proxies de atividade. Para sintetizar o ciclo econômico e monitorar “calor” setorial, modelos de Fatores Dinâmicos (DFM), integram PIM, varejo, serviços, ICC e IBC-Br. Por fim, um SVAR em tempo real com bloco atividade, inflação, juros, câmbio, permite identificar choques de oferta e demanda, além de medir a transmissão de política monetária sobre o ciclo e os serviços. 

Após as sugestões de monitoramento da atividade econômica pode-se registrar, pelos noticiários ainda, sem os exercícios econométricos, mas com os dados estatísticos pesquisados que a economia brasileira entra no último bimestre de 2025 com sinais de desaceleração controlada e desinflação gradual, porém ainda sensível a riscos domésticos e externos. O hiato negativo sugere espaço para avanços da atividade sem pressões inflacionárias significativas, mas a combinação de juros elevados, incerteza fiscal e baixa difusão industrial limita a retomada mais robusta do crescimento. A trajetória à frente dependerá da velocidade de convergência da inflação aos núcleos e do comportamento das expectativas – fatores essenciais para abertura de espaço a uma eventual flexibilização monetária em 2026. No curto prazo, a economia tende a operar sob crescimento moderado, sustentado pelo mercado de trabalho e serviços, enquanto indústria e investimento seguem demandando atenção. Caso a desinflação se estabilize e o hiato permaneça negativo, o cenário-base aponta para política monetária ainda contracionista no curto prazo, mas com viés de flexibilização mais adiante, desde que acompanhada de melhora fiscal e da manutenção da credibilidade do Banco Central. 

 

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